Meu Nome É Jaberson
O personagem
- Jaberson: é um adolescente que está apaixonado, tentando telefonar para a garota que ama. Mas não tem coragem.
Roteiro
Toda a cena acontece em um quarto. No cenário, há uma cama e um espelho.
Jaberson está na frente do espelho ensaiando o que vai dizer na ligação, com o telefone na mão.
Jaberson: Oi, meu nome é Jaberson. Nós fomos colegas… sim, terminei meus estudos contigo. Isso mesmo! Ah, tenho 17, sim… Ainda lembra? (interrompe) Droga! Está horrível! Ela vai pensar que sou um idiota! (espera, suspira e respira fundo)
Pega o telefone outra vez e fala para si mesmo.
Jaberson: De novo. (finge outra vez que está falando com Laura) Oi, Laura! É o Jaberson! Eu fiquei sabendo que tem um filme muito bom passando e quero lhe convidar para ir ao cinema comigo! (interrompe de novo) Ah! Que porcaria! E se ela não se lembrar mais de mim?
Pega o telefone outra vez.
Jaberson: Oi, é o Jaberson. Não sei se você ainda se lembra de mim… a gente estudou juntos no ano passado. Eu queria lhe dizer que sempre gostei de você e que não consigo lhe esquecer e… (joga o telefone na cama) …que eu sou um grande idiota! (Fala consigo mesmo) Tenho de parecer natural. Respira fundo! Calma! Todo mundo faz isso o tempo todo. Tenho de parecer natural. Respira fundo.
Irônico, fala consigo mesmo no espelho com outra voz.
Jaberson: É só o grande amor da sua vida. Estudou três anos com a Laura e nunca teve coragem de falar com ela… mas é a coisa mais natural do mundo: ligar depois que terminou os estudos e depois de um tempão para convidá-la para ir ao cinema. Já aproveita para pedir ela em casamento, lógico. (muda de tom) Por que não falei com ela ontem, quando a vi no shopping com as amigas? (fala pro espelho, irritado) Covardão!
Volta a ficar calmo.
Jaberson: Tenho de parecer natural. Respirar fundo. Ah, droga, melhor fazer isso logo!
Pega o telefone para discar o número e fica irritado.
Jaberson: Angélica, idiota! Sai da linha! Preciso telefonar! É, sim, é urgente! (escuta alguma coisa no telefone) Vai você, imbecil! (bate o telefone e fala irritado) Irmã é um saco!
Vai até a porta do quarto, abre a porta e grita para fora.
Jaberson: Mãe! A Angélica não sai do telefone e me mandou lá naquele lugar! (fecha a porta com força) Saco!
Pega o telefone e escuta.
Jaberson: Ah, finalmente! Desligou! (fala na frente do espelho) Vamos lá, coragem. Afinal de contas, você é um homem ou um rapaz de dezessete anos?
Liga para o número. Espera. Desliga, preocupado.
Jaberson: E se o pai dela atender? (olha pra cima) Ai, meu Deus, por quê? Por que é tão difícil amar? (Faz uma voz bonita no telefone) Oi, sogrão. Aqui é o seu futuro genro, o Jaberson… a minha amada está em casa? (muda o tom para falar consigo mesmo) Tenho de parecer natural. Respira fundo! Calma! Vamos lá, azar… o que tem de acontecer vai acontecer. Pensamento positivo!
Jaberson toma coragem e liga. Espera um pouco.
Jaberson: Tá chamando! Ai, meu Deus… É agora! Alô, eu queria falar com a Laura. É… droga! Secretária eletrônica! (desliga, rápido. Espera alguns segundos. Imita com voz de secretária eletrônica) Você ligou para 34562389. Deixe seu recado após o sinal… (finge que está deixando o recado) Oi, Laura. Aqui é o Jaberson, seu colega do ano passado… (interrompe e pensa consigo mesmo) E se eu deixar um recado tão original que ela não consiga resistir e acabe pensando que sou tão inteligente e tão maravilhoso… que ela queira ficar comigo? Vou fazer uma música pra ela! (finge que está deixando recado, e canta uma música ao telefone – pode ser uma melodia conhecida) Aqui é o Jaberson, teu colega especial. Laura, Laura, Laura! Estou te ligando para… (interrompe) E agora? Como vou terminar isso? Laura rima com o quê? Ah, se eu tivesse uma guitarra!
Pega um instrumento musical de brinquedo (um xilofone ou flauta).
Jaberson: Jaberson, o maior músico do Brasil, vai tocar seu novo sucesso: Laura! (faz uns ruídos horríveis. Finge desespero, socando a cama, dramático) Por que eu não sei tocar nada? Que droga! Vou me matar! (faz voz de noticiário de TV) Maior músico do Brasil encontrado morto! Morreu tentando telefonar! (Senta na cama, como se tivesse surgido com outra ideia. Pega o telefone e fala imitando o Enéas) Tenho dezessete anos, terminei os estudos e eu quero te convidar para ir ao cinema… Meu nome é Jaberson!
Larga o telefone. Fica pensando um pouco.
Jaberson: Por que ela não tem celular? Todo mundo tem telefone celular! Até eu tenho celular… (fica triste, bastante pensativo. Depois lembra de algo) Por falar nisso, esqueci de ligar o meu depois que fui ao cinema ontem. (olha o celular) Nossa, quatro recados! Não conheço esse número.
Toca o celular que está na mão dele.
Jaberson: Alô? Quem fala? Laura? Que Laura? Ah! Laura? Que foi minha colega? Claro… Ah, você me viu no cinema sozinho… e não teve coragem de falar comigo? Que bobagem, é a coisa mais natural. Queria ligar pra mim? Para ir ao cinema… puxa, que coincidência! Estou livre… qual é o filme? (fica vibrando e comemorando na frente do espelho) É, tenho 17 anos, sim… (se atira na cama)
Iluminação vai diminuindo. O restante do texto pode ser falado em um volume cada vez mais baixo.
Jaberson: Como conseguiu meu telefone? Ah, tá… é, eu sei como é. Ensaiando na frente do espelho? Deve ter sido divertido… ocupado? Ah, minha irmã… o celular? Esqueci de ligar depois do cinema. Posso, sim. Nossa! Estou tão feliz…
© Victor M. Sant’Anna 2007
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