Problemas Com A Vara De Família (2m 2f)


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Problemas Com A Vara De Família

 

Atenção!
Este texto contém linguagem vulgar e situações impróprias a menores de 18 anos de idade

Personagens

Homem na meia-idade
Mulher na meia-idade (ela tem dois filhos adolescentes, Menino e Menina, quase adultos)
Menino de idade entre 17 e 20 anos
Menina de idade entre 17 e 20 anos

Roteiro

Mulher, Menino e Menina conversam. A Mulher está ao centro do palco (pode estar sentada), como se estivesse ouvindo a queixa de dois advogados.

Menina: Amadíssima juíza! A insinuação de fato inverídico merece repúdio! A divulgação que atente contra a honra e a imagem de alguém gera direito à correspondente indenização!
Mulher: Sem nenhuma margem de dúvida! Eu estou inclinada a considerar estas acusações como verdadeiras…
Menino: E o argumento de que a notícia falsa teve uma fonte confiável, juíza?
Mulher: De nada vale!
Menina: A responsabilidade pela divulgação da notícia incorreta existe. A causa direta do dano é a divulgação!
Menino: Quem divulga responde pelo ato? Fatos isolados, às vezes corretamente focalizados, às vezes não, podem gerar responsabilidade?
Menina: O que é inquietante é que, certas publicações, não hesitam em macular autoridades, instituições e poderes…
Menino: Liberdade de pensamento? Sim, porém, com responsabilidade!
Menina: O abuso, não respeitando-se pessoas e instituições, atenta contra o regime democrático…
Menino: Certos indivíduos preferem fazer ilações, acusações. Este, com o devido respeito, não é o comportamento esperado de um homem de respeito!
Mulher: Homem! De respeito! 

Saem Menino e Menina, e uma música começa, O Homem entra e se aproxima da Mulher. Homem e Mulher dançam a música (danceteria), longes um do outro. À medida em que as músicas vão mudando, eles estão mais próximos, sorrindo um para o outro. Logo, estão dançando juntos, grudados e beijando-se. A música pára de repente, e ele deixa a Mulher (ela pode ficar paralisada, por exemplo). Ele não se dirige a ela – na verdade, está recordando. Pode dirigir-se a platéia, por exemplo.

Homem: Antigamente, o beijo era o final feliz de uma linda história de amor. Não foi o meu caso. Foi o começo de uma série de coisas que vou tentar contar. Ela estava com várias amigas naquela noite, mas nenhuma me deu bola. Se eu tivesse ficado com outra… mas acho que foi o destino.

Homem para de falar e fica estático, e é a vez da mulher falar.

Mulher: Ah, bobagem, ele sabe que não foi o destino. Eu contei para ele…
Homem (interrompendo): Não contou não!
Mulher: Fica quietinho aí! Deixa eu contar a minha versão!
Homem: Essas lembranças são minhas… essa é minha história, fui eu quem escrevi. Sua interrupção só impede que as pessoas saibam a verdade!
Mulher (ignorando as palavras dele): Bom, eu planejei tudo, não foi nada de destino. Algumas amigas minhas já haviam me contado como ele era e eu já tinha decidido que ia ficar com ele. Ele é meio bobão… nem percebeu. Combinei de sairmos para um lugar no qual que ele não deixaria de ir. Tínhamos até uma amiga em comum, o que facilitou tudo. Para mim, ele era o homem que eu precisava, aos 40 anos, solteira, …
Homem: 45!
Mulher: … separada, com filhos já adolescentes. Já estava na hora de ter um marido!
Homem: Viram só, como é que é? Nem nas minhas próprias memórias ela deixa de ser intrometida!

Música volta a tocar e eles voltam a dançar.

Homem: Tentem entender o caso: eu estava sozinho, mas não queria compromisso. Só queria sair trepando por aí, mostrar pra minha “ex” que eu estava cercado de mulheres gostosas, que eu era o maior amante do mundo!
Mulher: E você é mesmo!
Homem: Eu não queria ficar com alguém que iria me perseguir e grudar em mim! Quero ser um homem livre…
Mulher: Não quer não!
Homem: Olha, eu te acho muito legal. Loira, bonita, gostosa, tudo o que um monte de homens gostaria, mas não era quem eu queria! Eu estava meio confuso, decidindo se queria ficar sozinho o resto da vida… bom, eu também tava cansado de ser agarrado por tudo o que é mulher feia. Nada contra as feias – minha ex também é feia. E gorda. E burra. Mas eu estava cansado. Só porque eu estou carente e preciso de companhia, não quer dizer que eu esteja disponível pra qualquer uma! Eu sou feio, velho, meio careca, não muito inteligente e nem tenho dinheiro, mas isso não é motivo pra acharem que podem me agarrar!
Mulher: Comigo é o contrário! Só porque sou bonita e gostosa, os homens vivem querendo me agarrar! Ser gostosa não significa que eu queira dar pra todo mundo!
Homem: Não?
Mulher: Não!
Homem: Pensei que as bonitas sempre estavam a fim de dar…
Mulher: Você pensa como todos os homens!
Homem: Claro! Eu sou homem, né? Quer dizer… o que eu estou dizendo? Eu não penso assim não!

Homem e mulher agora estão sentados. Pode ser um banco de automóvel ou outro lugar qualquer.

Homem: Eu não posso ter nada com ninguém, não estou pronto.
Mulher: Não existe não estar pronto: se saiu para dançar, é porque está querendo algo!
Homem: Olha, eu ainda gosto de outra pessoa.
Mulher: Eu entendo isso, é bom ter companhia.
Homem: Não precisamos ter nada, podemos apenas sair juntos!
Mulher: Claro, é isso o que eu penso!
Homem: Por que perderíamos tempo tentando fazer algo que não estamos prontos para fazer?
Mulher: É isso o que eu digo… os homens não entendem que um homem e uma mulher podem apenas ficar juntos sem ter de fazer amor…
Homem: …ou ter um compromisso. Não precisamos transar.
Mulher: Não, claro que não. É possível ter um compromisso sem fazer sexo!
Homem: Claro! Ou fazer sexo sem ter um compromisso!
Mulher: Claro!

Silêncio.

Homem: Eu só preciso de companhia. Alguém para sair, dançar, essas coisas. Nada mais.
Mulher: Perfeito! Meus últimos namoradas duraram meses e nunca tivemos sexo…
Homem: Nunca?
Mulher: Nunca. Minha religião, sabe…
Homem: Perfeito! Parece que nos entendemos muito bem!
Mulher: É verdade! Estamos combinando um com o outro!
Homem: Eu não estou querendo alguém dentro da minha vida.
Mulher: Nem eu! Tenho família!
Homem: Vamos permanecer amigos, ou namorados. O nome não interessa, mas não precisamos ter nada sério!
Mulher: Estamos nos dando muito bem!
Homem: Estamos nos dando muito bem!

Homem e Mulher ficam se olhando, em silêncio. Logo, depois de um breve tempo, não resistem e se abraçam furiosamente.

Mulher: Meu gostosão, vem cá me comer!
Homem: Boazuda! Gostosa!
Mulher: Me dá uma chupada, meu tesão!
Homem: Tesuda!
Mulher: Me come, vai, aqui mesmo!

Os dois se separam como se tivessem percebido algo externo.

Homem: Espera, vem vindo alguém!
Mulher: Uau! Você entende mesmo de mulher!
Homem: Eu?
Mulher: Nunca tive um amante assim!
Homem: Eu nem fiz nada ainda!
Mulher: Você sabe seduzir uma mulher!
Homem: Seduzir? Eu é quem fui seduzido!
Mulher: Vem cá, vamos continuar…
Homem: Acho melhor ir embora, isto está fugindo ao controle.
Mulher: Não vai me deixar agora, né? Provoca, provoca e depois vai embora!
Homem: Espera aí! Eu é quem devia dizer isso!

Homem se afasta. Entra uma cena dos dois caminhando. Ele tenta fugir e ela não deixa.

Mulher: Ah, deixa de ser bobo, vamos!
Homem: Eu não posso ter nada com ninguém, não estou pronto.
Mulher: Não existe não estar pronto: se saiu para dançar, é porque está querendo algo!
Homem: Olha, eu ainda gosto de outra pessoa.
Mulher: Eu entendo isso, é bom ter companhia.
Homem: Não precisamos ter nada, podemos apenas sair juntos!
Mulher: Claro, é isso o que eu penso! Vem cá, vem!
Homem: Por que perderíamos tempo tentando fazer algo que não estamos prontos para fazer?
Mulher: É isso o que eu digo! Os homens não entendem que um homem e uma mulher podem apenas ficar juntos…
Homem: …ou ter um compromisso. Não precisamos transar!
Mulher: Não, claro que não. É possível ter um compromisso sem fazer sexo!
Homem: Claro! Ou fazer sexo sem ter um compromisso!
Mulher: Claro!
Homem: Eu só preciso de companhia. Alguém para sair, dançar, essas coisas. Nada mais.
Mulher: Estamos combinando um com o outro!
Homem: Eu não estou querendo alguém dentro da minha vida.
Mulher: Estamos nos dando muito bem!
Homem: Estamos nos dando muito bem!
Mulher: Devíamos casar!
Homem: Casar?

Homem e Mulher chegam na casa dela. Os filhos estão à mesa.

Mulher: Este é o meu namorado…
Homem: Amigo, na verdade!
Menina (amistosa): Oi…
Menino (sério): Oi.
Homem: Então… é aqui que vocês moram!
Menino (fala de modo irônico): Não, a gente mora noutro lugar!
Mulher: Não seja malcriado!
Menino: Ah, quem manda fazer pergunta estúpida?!
Mulher: Não precisa agir assim!
Menina: Ele está com ciúme!
Homem: E você, o que acha da sua mãe tendo um… “amigo”?
Menina: Não acho nada.
Homem: Que bom…
Menina: Inveja, talvez…
Homem: Ah, não é para tanto.
Menina: É bom estar com alguém… ter alguém para beijar, namorar.
Homem: Sou apenas um amigo.
Mulher (agarra o homem pelo braço): Somos mais do que isso, não é?
Homem: Só um instante…

Homem interrompe a cena e fala para a platéia.

Homem: Olha só… primeiro somos só amigos, ela é quem afirmava que queria isso. Agora somos mais que amigos. Pelo jeito, existem intenções escondidas por trás das palavras de uma mulher.

Mulher também deixa a cena e explica a situação.

Mulher: Quando tudo começou, éramos só amigos! Mas as coisas mudam. Agora, ele vê isso como “intenções escondidas”!
Homem: Precisava dizer isso na frente dos seus filhos? Podia ter me avisado antes!
Mulher: Avisado do quê? De que estávamos gostando um do outro? De que estávamos indo para um relacionamento sério?
Homem: Que relacionamento sério? Eu falei milhões de vezes que não queria casar!
Mulher: Não precisamos morar juntos, se é isso que te preocupa.
Homem: Não, não é isso!

Menina também aparece para falar.

Menina: Homens são assim mesmo! Querem se divertir, mas na hora de assumir, não estão nem aí!
Homem: Como assim?
Menina: Vocês são todos uns safados!

Menino também aparece para dar o seu palpite.

Menino: Esse cara vem aqui pensando que vai tomar conta de tudo… quer mais é tirar proveito da nossa família!
Mulher: Isso mesmo, quer me usar!
Menino: Você jamais vai chegar perto do que era meu pai!
Homem: Para tudo! Isso aqui está ficando meio confuso. Eu preciso ir, tenho que pensar.
Menino: E já vai tarde! 

Homem sai, eles voltam a falar entre si.

Menino: Porra! Pra que isso? Tem que sair por aí agarrando o primeiro homem que passa?
Mulher: Tá maluco, menino?
Menina: Puxa, mãe, eu sei que é importante ter alguém, mas não dava para escolher melhor?
Mulher: Melhor?
Menino: Esse cara não vale nada… a senhora precisa de alguém que respeite a senhora!
Mulher: Olha, acho que vocês não entenderam bem a situação: eu sou uma senhora descasada. É difícil arranjar um homem sério… é melhor vocês pensarem bem nisso. Com licença.

Mulher sai.

Menina: Homem sério… ele não me pareceu sério.
Menino: Um palhaço… um grande palhaço é o que ele é.
Menina: Mas até que ele não é tão ruim. O problema é que os homens são muito pouco apegados a compromissos…
Menino: Nada disso! Ele quer é comer a nossa mãe, e acha que vamos deixar. Entregar ela numa bandeja! Não quero esse cara aqui, não gosto dele. Ele não serve pra nós.
Menina: Também não é assim… acho que eu não me importaria de ter um papaizinho assim.
Menino: Não fale assim, ele não vai ser nosso pai!
Menina: Claro que não, mas pense bem. Faz anos que mamãe não namora ninguém… seria bom que ela ficasse menos tensa. E se esse cara for… rico?
Menino: Grande coisa, esse cara pode ser milionário que nunca vou querer ver ele por perto.
Menina: Vamos ser práticos! Nossa mãe vai se envolver com alguém, cedo ou tarde.
Menino: Por mim, só quando for muito tarde!
Menina: Olha, não vamos decidir nada, vamos deixar as coisas acontecerem. Acho que esse cara nem quer nada com a nossa mãe mesmo…
Menino: Ele não vai ficar com a nossa mãe. Ele não vale nada e eu vou provar isso!

Menino sai. Mulher entra.

Mulher: Filha, eu sei que parece esquisito, mas eu estou apaixonada por esse cara! Foi o primeiro que não passou meses atrás de mim, querendo me levar para a cama! Isso mexe com uma mulher! Com tanto desrespeito, encontrar um cavalheiro é algo muito difícil.
Menina: Mas mamãe, esse cara não me pareceu muito interessado em você.
Mulher: Olha filha, a culpa pode ser minha… eu deixei ele me seduzir muito rápido. Não fiz o jogo que deveria fazer, bancando a difícil… aconteceu algo entre nós, não sei o que foi. Já tive dois namorados depois do divórcio com seu pai. Já são sete anos que estou sozinha… mas esse é o primeiro homem que eu apresento para vocês, porque ele é o primeiro com quem eu quero ter algo a mais!
Menina: Vai com calma, porque ele não me pareceu com vontade de ter algo sério com você…
Mulher: Ele foi casado, está sozinho há muito tempo. É só uma questão de saber cercar ele direitinho antes de tentar agarrar ele!

Homem entra enquanto elas saem conversando.

Homem: Acho que era isso que elas pensavam de mim. Pelo menos, foi o que eu entendi sobre algumas coisas que andei conversando mais tarde. É difícil saber com certeza o que pensava cada um deles… os filhos pareciam não gostar muito de mim, e ela parecia estar apaixonada enquanto eu tentava levar as coisas devagar. Eu não tinha parado de sair com outras mulheres, por exemplo.

Mulher entra.

Mulher: Como é que é? Anda saindo com outras? Safado!
Homem: Olha, eu não quero brigar. Combinamos que não íamos ter um compromisso.
Mulher: E não temos! Mas você não pode sair assim, com qualquer uma, na minha cara!
Homem: Mas eu gosto de sair!
Mulher: Mas porque não sai com os amigos? Tem que ser com mulher?
Homem: Mas eu gosto é de mulher!
Mulher: Se é tão inocente assim, porque não sai comigo?
Homem: Você trabalha… só sobra sábado à tarde, e quero sair nos outros dias também.
Mulher: Eu não te entendo… se faz de santinho e só quer me passar a perna!
Homem: A perna?
Mulher: Não vem com gracinha não! Combinamos que íamos ser amigos!
Homem: Acho que precisamos esclarecer algo aqui: ser “amigo” é sair só com você?
Mulher: Não coloca palavras na minha boca!
Homem: Só me diz, sem rodeios… eu posso ou não sair com outras mulheres?
Mulher: Mulheres? Por que tem que ser com mulheres!
Homem: Responde, por favor!
Mulher: Pode sair com quem bem quiser!
Homem: Então tá, mas depois não vem fazer cobranças!
Mulher: Vai sair com quem?
Homem: Não sei, com amigos. Vou ao futebol no meio da semana, posso?
Mulher: A “Bel” gosta de futebol?
Homem: Bel? Que Bel?
Mulher: Estava lá no seu celular, safado! Você ligou um monte de vezes para ela!
Homem: É uma amiga de muitos anos. Nos encontramos por acaso no shopping!
Mulher: Ah, claro! E ficou ligando para ela ir ao futebol com você, então…
Homem: Olha, não seja ciumenta…
Mulher (furiosa): Eu não sou ciumenta!

Ela sai, furiosa. Menina entra.

Menina: Vocês não deviam brigar.
Homem: Mas é difícil. As pessoas têm visões diferentes sobre o que é certo e o que é errado.
Menina: Olha… nós gostamos de você. Mas pelo o que eu ouvi da briga, você anda saindo com outras. Não é certo fazer isso com a nossa mãe.
Homem: Eu não vou discutir isso com você, isso não faz sentido. O que eu e sua mãe temos é entre nós.
Menina: Está bem, eu só queria ajudar.
Homem: Acho melhor eu ir embora.

Menina sai. Mulher entra.

Mulher: Olha, desculpa eu ter olhado no seu celular, não foi de propósito…
Homem: Não precisa se desculpar.
Mulher: Vamos fazer as pazes?
Homem: Bom, nem sei porque estamos brigando. Parece que o que eu faço não é bem aceito.
Mulher: Faz um favor pra mim?
Homem: Claro…
Mulher: Leva meu filho ao jogo, com você. Faz muitos anos que ele não vê o pai e precisa de companhia masculina.
Homem: Mas eu já combinei com… ah, tudo bem. Mas ele torce pelo mesmo time que eu, pelo menos?

Ambos saem, entra Menino.

Menino: Foi horrível! Meu time estava perdendo para o time daquele idiota, e eu fingindo que estava gostando só para agradar a minha mãe!

Homem volta, Menino e Homem sentam – pode ser no banco de um automóvel ou de praça.

Homem: Não precisamos ser amigos, só precisamos saber conviver…
Menino: Por mim tudo bem, o que minha mãe pede eu faço. Mas não gosto nenhum um pouco de estar aqui, de você entrar na minha casa, de roubar nossa mãe.
Homem: Nunca quis estar lá! Sua mãe foi quem insistiu em me levar. Eu só queria um pouco de companhia, mais nada!
Menino: Queria se divertir com ela, trepar com minha mãe…
Homem: Não precisa pensar assim, nem falar desse jeito.

Menino levanta e fala para a platéia.

Menino: Nós nunca fomos ao futebol! Ele nem chegou a me conhecer!
Homem: É verdade, mas sua mãe vivia falando de você e mostrava suas fotos… ficava contando os dias para receber a ligação mensal…
Menino: Mas como pôde ser isso? Imaginou todos os meus sentimentos a partir do que ela contava?
Homem: Olha, imaginei que, se estivesse aqui, você teria essa atitude. Seria meu inimigo, com ciúme, essas coisas… depois, ia cair nessa de achar que eu iria substituir seu pai. Depois de um tempo poderíamos ser amigos, tenho certeza!
Menino: Puxa, que imaginação!
Homem: O que acha que eu deveria estar imaginando?
Menino: Não sei de onde saiu esse jogo de futebol, para começar. Você estava saindo com a tal de “Bel”, não é?
Homem: Eu não tinha nenhum compromisso com a sua mãe!
Menino: Pois é… fica aí, querendo fazer as pazes comigo por causa de uma briga que nunca tivemos. Por que não dá mais atenção pra minha mãe e resolve tudo? Precisa sair com um monte de gente para provar que não tem nada com ela, é isso? Ter muitas mulheres? O que está tentando provar? Que pode ser um garanhão? Que é independente? O que exatamente?
Homem: Olha… eu gostava da sua mãe. Não queria machucar ninguém, mas ela não facilitou. Ela queria mais do que eu estava pronto para dar.
Menino: Sei… coitado!
Homem: Olha, não obriguei sua mãe a gostar de mim.

Mulher entra.

Mulher: Mas me conquistou, mesmo sem querer.
Homem: Não tenho tanta certeza… o que eu fiz afinal? Apenas dancei com você.
Mulher: Às vezes é só o que precisamos… que alguém dance com a gente!
Homem: Mas eu danço muito mal! 

Homem fala para a platéia.

Homem: Para conquistar uma mulher, basta dançar com ela. Mas não muito bem… todo mundo sabe que homem que dança bem é…
Menino (furioso): É o quê? É o quê?
Homem: Olha, estou apenas brincando… não quis ofender!
Menino: Vamos, completa! Diz aí! Fala que quem sabe dançar bem é “boiola”!
Homem: Não coloque palavras na minha boca!
Menino: Acha que eu sou bicha, é?

Menino sai.

Homem (falando para o menino e para si mesmo): Sei lá. Não estou entendendo. Eu estava falando de outra coisa… desculpe, é o meu jeito de ser. Mas acho que fui longe demais. Não era isso o que eu queria.
Mulher: Deixa ele em paz!
Homem: Acho que é hora de terminar tudo. As coisas não estão boas e não era isso o que eu queria. Desculpe, mas não está dando certo.
Mulher: O quê? Está maluco?
Homem: Eu acho melhor eu ir embora. Vamos terminar tudo enquanto ainda estamos bem.
Mulher: Não vai terminar nada! Eu proíbo!
Homem: Proíbe? Como assim?
Mulher: Acha que pode fazer o que bem quer comigo?
Homem: Por que vamos insistir em algo que não está dando certo?
Mulher: Eu não vou ser usada e jogada fora!
Homem: Eu não estou fazendo isso! Só quero ir embora antes que fiquemos muito machucados.
Mulher: Só eu estou machucada! Ofendida! Quem mais aqui apostou em alguma coisa? Você não vale nada! Não pode dispor das pessoas assim!
Homem: Olha, não estou entendendo… sempre conversamos muito.
Mulher: Não pode ir embora! Não pode!

Homem fala para a platéia.

Homem: Bom, eu pensava em terminar tudo, mas aconteceram algumas coisas. Outras coisas.
Mulher: Se me deixar eu vou me vingar, juro!
Homem: Sem querer dizer um chavão, mas acho que… “precisamos dar um tempo”…
Mulher: Não quero mais falar com você! Não quero mais te ver!

Mulher sai. Menina entra. Enquanto ela dança sozinha no meio, o homem se aproxima e dança com ela. Logo estão juntos, mas quando estão prestes a se tocar ela se afasta um pouco e fala ao Homem.

Homem (para a platéia): Aqui começou meu pesadelo. O que aconteceu antes foi imaginação minha, mas o resto é realidade.
Menina: Reconheci o senhor… foi meu professor. Procura garotinhas de 18 anos….como todo professor quer “galinhar” entre as alunas. Ainda bem que fiquei pouco tempo com o senhor. Sabe que estou com vontade de mandar uma mensagem para algumas coleguinhas que estudam comigo e avisar que, se algum dia o senhor convidar alguma delas para um lanchinho inocente, se cuidem. Mais um galinha querendo zoar? Podemos ser suas filhas, mas sempre acham que podem dar aulas particulares de sexo, como proceder e como namorar… seu supervisor sabe de suas preferências? Atencioso, o senhor…
Homem: Engraçado… não foi minha aluna. Não diria essas bobagens se me conhecesse.
Menina: Não acho nada engraçado, professor. Fui sua aluna, sim! Por que o senhor estaria em tantas festas e danceterias para jovens? Estaria lá em busca de quê? Meio boba essa pergunta… porque “quanto mais, melhor” ou, então, por não ter tanta coragem de fazer isso diretamente. Aí fica por conta de sua imaginação. Bastante desesperador, estar em tantos lugares assim… boa sorte e espero que case logo. Engraçado que eu lembre só o seu apelido… era reconhecido pelos colegas como um “id direta”.
Homem: Não entendi…
Menina: O que aconteceria se eu contasse para sua namorada o que acontece entre nós?
Homem: Não sei… talvez ela gostasse de saber que a filha dela anda por aí tendo crise de consciência enquanto tenta seduzir homens de meia-idade.

Menina sai.
Menino entra usando máscara.

Menino mascarado (fala à platéia como se oferecesse uma propaganda): Ofereço toda linha erótica para você presentear sua namorada, esposa ou amante neste Natal! Calcinhas comestíveis, fio dental, abertinhas, fechadinhas (para você abrir devagarinho), fantasias eróticas, ligas, óleos saborosos para você espalhar no corpinho dela. Tudo para uma noite quente de prazer… também tenho toda linha GL…
Homem: GL? O que quer dizer isso?
Menino mascarado: Para gays! Lubrificantes com sabor, camisinhas coloridas de sabor morango e chocolate. Pênis de chocolate para suas brincadeiras mais sensuais. Coma seu amante todinho com um mousse de chocolate gostoso espalhado em todas as suas partes mais quentes… não cobro taxa, a entrega é gratuita.
Homem: Sei…
Menino mascarado: Se você está sozinho, tenho lindas garotas e garotos pra lhe fazer companhia. Como promoção, estamos oferecendo companhias por turno. Preços acessíveis para uma tarde, manhã ou noite com muito prazer e excitação. Escolha a fantasia e nós a realizaremos. Para mais de uma companhia, descontos especiais também. Carla Dengosa e sua turma gostosa, um mundo de prazer!
Homem: Carla Dengosa!
Menino mascarado: Sim! Ao seu inteiro dispor!
Homem: “Companhias por turno”… quanto custa? Que tipo de fantasias? Existe fotos das possíveis acompanhantes?
Menino mascarado: Temos companhias para todas as suas fantasias. Basta você nos dizer se quer sair com mulheres ou homens. Ou também se preferir, com sua namorada, se tiver, junto. Realizamos qualquer fantasia… nossa equipe é treinada. Quanto ao tipo de companhia, você precisa descrever qual é o seu desejo. Idade das garotas ou garotos, tipo físico e o que você deseja. As fotos serão enviadas posteriormente. Você também precisa ser explícito e dizer também qual turno prefere. Por sermos uma equipe profissional, qualquer detalhe deve ser incluído, especialmente se você possui namorada ou se é casado, para aumentar nosso sigilo! Uma acompanhante: noventa reais! Duas acompanhantes: duzentos! Três ou mais acompanhantes: quatrocentos e oitenta! Turno de quatro horas! Os acompanhantes podem ser todos do mesmo sexo, ou mistos. Fantasias: você escolhe. Após acertarmos o número de acompanhantes, envie-nos seu telefone para acertarmos os detalhes. Se você necessita de viagra, fornecemos um comprimido de cortesia. Lembre-se… seja sincero para que as suas horas de prazer sejam inesquecíveis. 

Homem fica em silêncio.

Menino mascarado (bancando o esperto, fala de forma esquisita): Ahá! Te peguei! Você caiu como um patinho nessa brincadeirinha! Você foi com muita sede ao pote, meu amiguinho! Você vai ter muitas surpresas nos próximos dias! Estou selecionando uma garota genial para você! Bem dentro das características que você quer! Não se espante, a brincadeira foi atualizada com sucesso!
Homem: Isso não faz nenhum sentido. Do que você está falando?
Menino mascarado: Na certa já levou uma bronca hoje!
Homem: De quem eu levaria bronca? Sou solteiro, desimpedido e procurando companhia, como todos nesse universo. Se eu quisesse me esconder, usaria roupas diferentes e mentiria a idade. Se você fosse uma pessoa inteligente, teria percebido, não acha? Não faço nada escondido. Pelo contrário: não uso nomes falsos, não me escondo atrás de anonimato e não me acovardo atrás de hipocrisia, falsidade ou preconceito. Deve ser difícil entender isso, claro, uma pessoa incapaz de se identificar…
Menino mascarado (dando pulinhos pelo palco, como uma bailarina): Quer saber quem eu sou? Ainda não descobriu? Sabe, você e sua namoradinha precisavam de uma lição! Você ainda acha que quem dança bem é “boiola”? Ou já está aprendendo a dançar? Ela me enfrentou muitas vezes… que casalzinho. Estão gostando da brincadeira? Já está virando uma brincadeira sem graça…
Homem: Eu não disse que quem dança bem é “boiola”! O que eu disse foi outra coisa. Mas cada um acha o que quer achar.
Menino mascarado: Finalmente vocês receberam a lição que mereciam! Ela estará sozinha e eu vou poder consolar a coitadinha!
Homem: Se ela estava comigo, é porque eu dava alguma coisa que ela queria. Dei noites inesquecíveis a ela, sei lá.
Menino mascarado: Imaginar você “dando” uma noite inesquecível para alguém, é como acreditar que Papai Noel existe, que a Branca de Neve foi feliz para sempre, que o sapatinho da Cinderela achou seu parzinho….
Homem: Que patético! Isso é um sonho, um pesadelo ou eu estou ficando louco. Não estou entendendo nada?

Menina e mulher entram.

Mulher (furiosa): Eu é que fiquei louca! Talvez nada disso tenha valor para você. Mas para mim, significa esquecer que um dia li algo que você escreveu e me fez chorar por muito tempo.
Homem: O que eu escrevi?
Mulher: Não ia adiantar falar sobre isso na época… sei que falava de mim para todo mundo. Me deixou louca. Isso quase acabou com minha vida. Trabalhei duro para superar muitas coisas, e essa foi uma delas. Hoje, dá para entender as atitudes das pessoas, e essa é a parte mais feliz da história.

Mulher tira um pedaço de papel de algum lugar e joga na cara do Homem.
Menina pega o papel.

Menina (lê papel): Este ano foi bastante divertido, não posso me queixar. Primeiro, foi aquela mulher mais velha, de quase 50 anos, que tive de evitar porque não pegava bem que me vissem com alguém que possuísse uma idade muito superior a minha. Ela adorava uma foda, gostava mais de me dar o cuzinho do que ser comida na boceta. Acho que estava querendo me conquistar, sei lá. Semana passada… agora que já não nos chupamos há quase um ano, e depois de tentar me beijar à força e de dizer que o filho de 20 anos ia ser meu aluno no ano que vem, ela veio me perguntar se eu gostava de usar calcinhas. Meio barra pesada aquela dona.
Homem: Posso explicar tudo! 

Mulher sai.

Menina (continua lendo papel): Bom, depois foi a filha dela, que era virgem… a garota me seduzia – ou tentava – mas não queria nada de verdade. Estava apenas curtindo com a minha cara, me fazendo de bobo. Ela vivia me ligando e me falando obscenidades pelo telefone… sobre estar se guardando para alguém especial “lá pra frente”, embora o bumbum já tivesse sido de alguns meninos de 14 anos.

Menina pára de ler e encara o homem.

Homem: Posso explicar tudo! 

Menino tira a máscara e pega o papel da mão da menina.

Menino (lê papel): A garota reclamava dos membros minúsculos dos meninos e vivia me excitando com conversas pela madrugada adentro, sobre querer chupar um pau realmente grande. 

Menino pára de ler e sai, jogando o papel no chão. Menina pega papel.

Menina (lendo papel novamente): Gosto de bancar o bobo, de ser usado. Quero mais é que aproveitem de minha incapacidade mental. Ela também agia como uma retardada, mesmo tendo 16 ou 17 anos. Mas era gostoso, de certa forma. Eu, infelizmente, quarentão, pra manter as aparências, não ia ter como explicar um caso com uma menina dessa idade, mesmo que fosse só por telefone. Cedo ou tarde poderia acontecer uma tragédia. Menos mal que ela começou a namorar um coleguinha de aula de 15 anos. Acho que era mentira que ela gostava de ficar com meninas, mas vivia de mão dada com uma amiguinha… os três eram quase… sei lá o quê. O irmão da menina, filho da velha, era um idiota. Veio ao banheiro quando eu estava lá dentro com algum pretexto qualquer e ficou olhando meu pau. Murmurou qualquer coisa sobre “que pica grande” e suspirou “que vontade de chupar essa pica” ou “coloca isso tudo na minha boca”. Mas não dei muita bola, apenas mencionei o fato de que a família dele ia ficar meio decepcionada com ele se eu falasse o que ele estava dizendo pra mim. Ele me deixou em paz. Agora, depois de tanta indecência, finalmente me acertei com a irmã mais velha, de 24 anos, que é séria, e nunca namorou – exceto, claro, algumas “ficadas” e uma ou outra transa rápida e mal resolvida.
Homem: Acho que agora a coisa é séria mesmo… ela combina comigo, não gosto dessa libidinagem toda. É preciso preservar alguma coisa, “bons costumes”, isso daí. Acho que dá até pra casar.
Menina (lendo o papel novamente): Depois de tanta putaria em família, é bom repousar meu órgão ejaculador em uma moça com moral elevada tanto quanto a minha própria, uma verdadeira “moça de família”. 

Menina abraça Homem. Mulher e Menino entram e abraçam os dois. Quando param os abraços, o homem fala para a platéia.

Homem: Posso explicar tudo!


© Victor M. Sant’Anna 2004

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Barcode - Vara

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