Laços De Sangue (Ou “Herança”)
O personagem
- Garota de 15 anos: adolescente tenta reproduzir a última conversa que teve com sua mãe.
Roteiro
A impressão inicial do público deve ser estar ouvindo uma conversa entre uma mãe e sua filha, embora seja a filha quem esteja reproduzindo ambas as falas. A voz da personagem deve soar como uma mãe repreendendo a própria filha.
O que é que você ia me contar que era tão importante? Deixa eu lhe explicar primeiro porque você não pode sair, está bem? (amorosamente) Filha… presta atenção. Eu estou dizendo isso para o seu próprio bem. (começando a perder a paciência) Olha para mim quando eu estiver falando com você, por favor…
(explodindo) Puxa vida, que droga! Que merda! Merda! Já falei quantas vezes? Quantas vezes vou ter de repetir isso? Você é surda? Não escuta o que eu digo? (com muita raiva) Olha pra mim! Olha pra mim! (falando com mais calma) Olha, filha, eu faço isso é pra lhe proteger… tenta entender! Você não tem idade suficiente… como você poderia sair à noite com suas amigas?! Com quinze anos! Imagina! (nervosa) Quer que aconteça a você o mesmo que aconteceu com outras? Uma desgraça?
(explodindo de novo) Olha pra mim! Tenta entender! Quer que aconteça a você o mesmo que aconteceu comigo? Ter de largar casa, família, estudos… para trabalhar e se sustentar? Fazer tudo sozinha, perder a vida toda? Nunca deixarei que aconteça o mesmo! Prefiro morrer, está entendendo? (falando mais calma, mas com raiva) Você não sabe o que é ter um filho para criar sem um pai para ajudar. (falando mais calma) Eu sei que você não entende… é muito nova! Não pense que eu não sei o que você está pensando: que é responsável, que é inteligente…
Mas você não sabe como é lá fora! (com mais força) Você não sabe como é lá fora! Você não entende essas coisas e não vai entender enquanto for criança! (Amorosamente) Tem coisas que só dá para entender quando chega a idade certa… (irritada) não faça essa cara! Olhe para mim quando eu estiver falando! Me respeita! (muito irritada) Me respeita! Está pensando o quê? Sou eu quem lhe sustenta! Eu é quem compro coisas! Você não pode largar tudo… tem de estudar! Não tem idade para namorar. Tem é de pensar nos estudos!
O que vai acontecer se você ficar grávida? Sem dinheiro, sem nada? Deus me livre! Prefiro morrer! Prefiro morrer, minha filha! (Irritada, mas com menos intensidade) O que você está querendo não é certo! Não é certo! Só porque suas amigas são umas vagabundas, isso não é certo! Quer que aconteça uma desgraça… uma coisa ruim? (notando que a comida no fogo está queimando) Olha só! Viu o que você fez? Fez eu deixar a comida queimar! Que merda! Idiota… você é uma idiota!
(ficando furiosa) Escuta… escuta! Onde você vai? Me respeita! Fica aqui que eu não acabei! (com muita raiva) Eu vou lhe bater! Pare com isso! Está querendo apanhar, não é? Está pedindo! (fazendo chantagem emocional) Por que você está fazendo isso comigo, minha filha? Eu não lhe dei tudo? Não lhe dou uma vida maravilhosa?
Eu lhe dou tudo! Eu morro para lhe fazer feliz! (chantagem com tom de raiva) Por que você não destrói tudo de uma vez? Para quê tudo o que eu lhe dei? Termine logo com a minha vida, vai! Pegue esta faca (oferece uma faca a alguém, no ar) e me mate de uma vez! (A faca cai no chão ou é emitido o som de uma faca caindo ao chão)
A voz do personagem volta ao tom de uma garota de 15 anos de idade, falando para alguém, como a polícia, por exemplo.
(com calma) O resto… eu não lembro de nada. Foi aí que vocês chegaram. Depois disso, lembro do barulho da faca caindo no chão e das minhas mãos cheias de sangue, mas… eu não me lembro de mais nada do que aconteceu.
© Victor M. Sant’Anna 2004
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